segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

às vezes ainda a tristeza

abraçada ainda às vezes. por issso. por aquilo. por tudo o que escapa.


"porque a carne é coisa viva, coisa de água e de sangue(...)eu tentei. tentei. sabe que lá fora, a torre dispersa ilumina-se, telha a telha, de gente que não existe. dentro da torre não existe ninguém. e eu que imaginei cada pessoa, cada história pequena no momento de os olhar e na torre não existe ninguém. e eu chamei. eu tentei. cada homem esconde em si um crime atroz, compreendo agora, eu que sempre achei possível que, descendo das torres os homens fossem um dia animais doces e que do esgar das bocas não fosse um único veneno verdadeiramente mortal. eu que vi pequenos nadas na luz acesa das mãos a vibrar e a desenhar mundos inteiros. inteiros, meu amor, inteiros eram os nadas que eu julguei encontrar em ti. e então nada é melhor que tudo, mas foi pois dos nadas que eu desabei. rebolei e esfolei os braços e o peito e esta perna ainda apertada de si. e eu tentei. na minha forma de ver que isto vai certo que pode ser assim que esteja certo, devagar, vai estando certo, devagar. mas não esteve. não estava. e a notícia chegou amarga e afiada nessa carta tão cheia de arestas, tão cheia de falhas, tão cheia de eu posso apertar o mundo na minha mão sem noite nem dia. eu podia dizer que sei. mas não sei. quero um soalho mais limpo um quarto menos vazio, uma cidade mais tranquila. muito menos longe deste exílio confuso. (...) um destes dias volto a ver o mar. e se ainda me vê, quando fecha os olhos, encha-me uma outra carta com esse nada que eu ainda sou. se o for. se o for (...)"